domingo, 20 de maio de 2012

DADOS BIOGRÁFICOS DE JOSÉ FRANCISCO DE ALBUQUERQUE SOBRINHO,MARIA DA NATIVIDADE DE ALBUQUERQUE E SEUS DESCENDENTES

LI E INDICO 
Arte gráfica: professor Davi Portela
As imagens do passado são indestrutíveis, principalmente quando envolvem sentimentos telúricos e familiares. Entenda-se por família ou familiar tudo aquilo que nos é inerente. São os amigos de infância, os cenários da natureza, o clima, o barulho da chuva, o primeiro professor (a), as brincadeiras e até os desentendimentos banais da criancice que quando bem conduzidos e orientados forjam no individuo a necessária competição salutar, por  não ser raivosa.
Isso me faz lembrar a Coreaú de antanho com seu casario simples, boa parte em beira e bica e alguns jacarés que propiciavam nos dias de chuva o inesquecível banho. Os arruamentos eram simples e singelos como seu povo. Três pracinhas e algumas ruelas ainda muitas delas sem calçamento. Mas isso servia de palco para nossas brincadeiras, principalmente no inverno, já que ensejava a proliferação da relva verde e da babugem como expressões biológicas do reviver.
Talvez por essa simplicidade as coisas aconteciam e repercutiam de forma mais demorada, mais vivida. Eram as conversas familiares nas calçadas, os novenários de Nossa Senhora da Piedade, os rituais religiosos solenes e distintos na matriz com o cantar marcante do “coro” da igreja onde na nossa imaginação não existiam melhores vozes ou cantores, porque o referencial  era aquele. O saxofone do André ou Lustosa, o piston do Chico Irineu com a surdina, o trombone do Canarinho, a voz de soprano da Deusa e  o canto marcante da solteirona Anita que era a maestrina  ad hoc, pois sempre começava e terminava os cânticos sacros. Foi neste cenário que vivi minha infância, quando Pároco era o Padre Benedito Albuquerque.
Mas existe um fato que dentre os demais foi o mais acentuado. Não consigo esquecer e sou feliz por ter estado presente mesmo ainda menino. Após a ordenação de Padre Benedito em Sobral, que este ano completa seu cinquentenário, estar presente à primeira missa dele na matriz de Coreaú. Ah! Como foi bonito o ritual litúrgico. A entrada  triunfal de Padre Benedito com as belas vestes paramentos de sacerdote, ele visivelmente emocionado, esbanjando imponência e elegância, mas diga-se sem afetação, em pleno fulgor da beleza da juventude e  a encher de orgulho seus conterrâneos presentes na inteireza. Era muita gente, todos com a melhor roupa como a homenageá-lo e a expressar orgulho e satisfação pela conquista do jovem conterrâneo. Religiosos e religiosas de todos os lugares. Bandeiras, banda de música. A cidadezinha pululava de regozijo.
Sentados nos primeiros bancos o virtuoso casal, Seu Zé Barra, de terno branco, e Dona Cocota, pais de Padre Benedito, acompanhados de toda a prole. Como se sentiam vitoriosos e como era perceptivo o brilho nos olhos pela satisfação e emoção do filho consagrado! Todos sorriam ou choravam de emoção. Principalmente os familiares mais próximos. Gerardo, o saudoso irmão gêmeo de Padre Benedito e os demais irmãos não menos queridos: Fransquinha, Dedeca e Magnólia, com seus respectivos esposos e filhos ainda meninos e meninas. A Marta, Célia, Astrogilda, Vera e Guanabara com quem muito aprontei em inesquecíveis e ingênuas brincadeiras.
Existem homens iluminados e determinados. A propósito desta assertiva seu irmão gêmeo já citado, Gerardo Antonio de Albuquerque, pouco antes de falecer, manifestou por escrito em 1997 que: “Dom Benedito é o símbolo da família, uma pessoa dedicada às causas da Igreja Católica. Sua vocação surgiu do Divino Espírito Santo, é uma pessoa calma, prudente, comunicativa e amiga da família, sempre nos acolhe quando o procuramos”.
Feliz da terra que tem dentre seus filhos gente dessa ascendência. Dom Benedito é um destes e Coreaú foi abençoada por ser seu berço e por ele ser amada. Verdadeiramente Coreaú tem um marco. Existem dois Coreaú: o de antes e o de depois de Padre Benedito. Os que tiveram a oportunidade de acompanhar seu desempenho são testemunhas da pertinácia e determinação dele na busca incessante  de assegurar a oportunidade  de uma vida digna  a seus conterrâneos, a todos, principalmente aos mais pobres – os quais eram muitos em Coreaú – através do caminho da educação e de uma sólida base religiosa. E como frutificou essa ação! Hoje são numerosos os egressos da saga criadora do Educandário, hoje Colégio Ginásio Municipal N. S. Da Piedade, por Padre Benedito, espalhados nos mais diferentes pontos do país a viverem dignamente tendo por princípios a decência e a moral cristã.
Para consolidar essa obra, D. Benedito com sua liderança e sentimento cristão arregimentou uma plêiade de pessoas da terra e algumas inserções de outras plagas, os quais compuseram um verdadeiro apostolado que de forma simples e sob sua determinada  e disciplinada regência  deram a arrancada na busca da efetivação  para mim do mais singelo, porém mais importante empreendimento dentre os muitos que ele realizou por onde passou.
Como consequência, Coreaú assumiu uma postura de vanguarda no campo educacional e por isso é talvez, a cidade da região norte que proporcionalmente possui o maior número de cidadãos graduados em nível superior. E por decorrência houve uma ascensão socieconômica de famílias que estariam fadadas a permanecer no atraso e na miséria.
Tudo até aqui contido decorre da satisfação privilegiada que estou a sentir pelo fato de haver sido convidado pelo memorialista Leonardo Pildas para prefaciar o livro de sua autoria com os dados biográficos e a descrição da saga da honrada família de descendente do casal José Francisco de Albuquerque Sobrinho (Zé Bara) e Maria da Natividade de Albuquerque (Cocota), dentre os quais se destaca Dom Benedito, cuja vida e apostolado está descrito em capítulo especial. O contido no livro certamente perpetua e universaliza o exemplo de que a família estruturada na simplicidade no amor cotidiano – e está se constitui num exemplo  – é e será para sempre o patrimônio maior do ser humano.
Espero não está a cometer heresia, mas assim como existe a figura do Bispo Emérito deveríamos nós os coreauenses, já que não somos sede de Diocese, consagrar Dom Benedito como o Pároco o Emérito da Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Coreaú. Aliás, os bispos gostam de ser chamados Padres. Isso ouvi de Dom Helder Câmara. E tenho o pressentimento de que Dom Benedito Albuquerque é possuidor deste mesmo sentimento. Talvez pela imagem do Padre simbolizar a juventude com os sonhos destemidos e despojados a serviço da ética maior que é a pratica do bem.

Galba Gomes
Cirurgião-Dentista, Professor do curso de Odontologia, mestre em Psicologia e ex-aluno de Padre Benedito no Educandário N.S. da Piedade.
Texto extraído do prefácio da obra de Leonardo Pildas, ano de publicação: 2003

Indicação: Professor Davi